sexta-feira, 13 de março de 2015

"Às vezes, tem uma TV estragada e eles nem perguntam se a gente sabe arrumar"

13 de março de 2015

Hoje foi o nosso primeiro dia na Associação/ Ponto de Cultura Cidade de Livre. As crianças e adolescentes foram super receptivas e nos acolheram da melhor maneira possível nesta tarde chuvosa.
Fizemos uma dinâmica de apresentação, para que começássemos a nos conhecer. Nesta dinâmica, pedimos para que cada um pontuasse três qualidades positivas no colega da direita e um dos fatos que nos chamou bastante atenção, foi quando uma menina negra pontuou as três "qualidades" da colega do lado: branca, olhos claros e bonita. Isso nos mostra o quanto o preconceito está arraigado em nossa sociedade e que muitas vezes ele surge das próprias pessoas que sofrem o preconceito. Estávamos na periferia, onde a maioria das crianças e adolescentes são negras e carentes e, no entanto, as "qualidades" apontadas são aquilo que não são: brancos, dos olhos claros, uma projeção de beleza e de uma situação melhor. Só esse episódio daria muito pano pra manga...
Lemos juntos o fanzine "A Saudade de José" de Cristina Helou. Foi lindo ouvir a história na voz daqueles meninos...e ouvir também o que eles compreenderam sobre este. Indagados se já haviam passado por alguma mudança de casa (como acontece com o menino José), pelo menos a metade afirmou que sim. As origens são diversas: Tocantins, Pará, interior de Goiás...
Perguntamos se, na condição de crianças e asolescentes, as opiniões deles são levadas em conta pelos adultos. Uma das garotas assim respondeu: "Eles não querem saber da gente, não querem saber o que a gente pensa. Ás vezes, tem uma televisão estragada, e a gente sabe arrumar, mas eles não perguntam se a gente sabe arrumar. Preferem jogar fora do que perguntar se você sabe arrumar."
No final, trabalhamos a música "Felicidade" de Lupicínio Rodrigues, que fala de saudade...A saudade de José...

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